O dilema da aceitação da homossexualidade dentro de casa
- Aniervson Santos
- 11 de jun. de 2024
- 5 min de leitura

Olá, gente. Caso você esteja chegando nesse perfil agora e ainda não me conhece, meu nome é Aniervson Santos, sou psicanalista, pedagogo, tenho especialização em juventude, em sexualidade e também sou mestre em educação, culturas e identidades.
Neste post, gostaria de expandir a área de análise do conteúdo que pretendo abordar fazendo um diálogo entre a psicanálise e as demais ciências que também estudo. Acredito que assim, conseguiremos ampliar o nosso entendimento.
Este é mais um do grupo de textos que me propus a fazer ao longo de todo esse mês, devido ao mês do orgulho LGBT, para discutirmos questões relativas a sexualidade, a homossexualidade e a diversidade sexual, sob a visão da psicanálise. Então, vamos lá?
Bem, gostaria de iniciar esse texto fazendo uma chamada especial para quem tem filhos, sobrinhos, afilhados, netos ou que cuidam de alguma forma da educação de crianças e adolescentes, pois gostaria de trazer para o debate a importância da acolhida das pessoas LGBTQIAPN+ no espaço seguro que é, ou ao menos deveria ser, a sua casa.
Acredito que não seja novidade para nenhum de vocês que ainda há um grande preconceito com as pessoas LGBTQIAPN+. Todo mundo que está lendo esse texto, certamente já presenciou alguma cena de preconceito contra essa população ou conhece alguém que já passou na pele ou, ainda, já deve ter lido ou assistido notícias dessas violências, não é mesmo?
E é justamente por esse motivo que chamo a atenção dos pais e familiares em relação a acolhida de seus parentes que são LGBTs, pois já não basta o preconceito sofrido na sociedade, ter que suportar as diversas violências dentro de casa também seria muito doloroso para qualquer pessoa.
Há uma questão entre essa relação de pai e filho que pode contribuir para que esse distanciamento entre ambos aconteça e permaneça. De um lado, temos os desejos não realizados dos pais quando eram jovens e sua intenção direta em projetar isso em seus filhos. Por não terem conseguido a carreira dos sonhos, ou o casamento com o príncipe encantado, o tipo de vida social que sonhavam ter, enfim... muitas vezes, os pais gostariam que seus filhos realizassem os desejos que eles não foram capazes de realizar. Mas esse mecanismo, gostaria de chamar a atenção, não é consciente. São movimentos sutis, comportamentos naturalizados, discursos travestidos de incentivos e que vão dando corpo a essa dinâmica.
Por outro lado, temos os filhos que, para não decepcionar seus pais, inconscientemente, podem assumir o desejo deles como se fossem seus. Há também, nessa intenção de não decepcioná-los evitar abrir o jogo, contar de suas vontades que vão em direção oposta as vontades de seus pais. Essa dinâmica, facilmente, empurra o adolescente e o jovem para o armário. É a partir daqui que a situação pode ficar muito perigosa.
Aos pais que agora leem esse texto, um alerta importante: seu filho não tem a obrigação de realizar os desejos que, por algum motivo, você mesmo não foi capaz de realizar. Isso não quer dizer que eles amem menos vocês por isso. Não mesmo. O motivo deles não terem que realizar os desejos dos pais é porque eles tem seus próprios desejos e seria você o próprio responsável pelos seus desejos, então não transfira a responsabilidade para os outros, ok?
Faça um exercício de acolher a demanda de seus filhos sem impor as suas próprias vontades para eles, ou impor sua visão de mundo, impor suas crenças, enfim. É natural que no processo educativo dentro de casa, os valores sejam compartilhados e aprendidos, no entanto, também é natural que as novas gerações coloquem tais valores em xeque ou ressignifique-os. Sendo uma coisa ou outra, qual mal há nisso, se vocês partilhassem essas mudanças juntos, sem que houvesse um impondo seu poder contra o outro?
Se o seu filho não encontrar acolhida em casa para ele ou ela ser quem é, muito provavelmente, irá buscar fora e certamente encontrará. Se você não for capaz de aceitar que seu filho ou sua filha pode desejar ou sentir atração sexual diferente de como você sentiu é porque você ainda não compreendeu que ele e você não são a mesma pessoa. Se para você se sentir bem, em relação a como seu filho vive sua própria sexualidade, você teria que expulsá-lo de casa, certamente é porque você não se deu conta ainda que ele nunca deixará de fazer parte de você, pois ele viverá no seu inconsciente e nunca ficará lá quietinho. Você verá a bagunça que será empurrar seu filho no seu inconsciente, como se não o reconhecesse.
A sexualidade não é uma escolha, como se estivéssemos decidindo com que roupa iremos sair de casa hoje. Sendo assim, não achem, querido pais, que seus filhos se tornaram gays, lésbicas, bissexuais, transexuais, enfim, porque vocês erraram na educação deles, pois não tem como ensinar a se sentir atraído por este ou aquele sexo. Tao pouco pensem que eles "se tornaram" LGBTs para afrontar vocês, pois isso não pode ser verdade. Afinal, quem em sã consciência vai escolher se tornar algo que não há nenhum tipo de privilégio em ser aquilo.
A mensagem que gostaria de deixar para os pais e todos aqueles que cuidam de crianças e adolescentes hoje é esta: acolham seus filhos como eles são para que possam encontrar em casa um lugar seguro para eles potencializarem suas existências e não precisem procurar a rua para não terem que experimentar o abandono e indiferença dentro de suas próprias casas.
E caso você encontre dificuldades para aceitar a sexualidade de seus filhos e respeitá-los como eles são, procure a terapia, tenho certeza que te ajudará a compreender o que te impede de acolher as diferenças dentro de sua própria casa. Não esperem que seus filhos desistam deles mesmos para que você, enfim, encontre forças para aceitá-los, pois esse será um alto preço e tenho certeza que nenhum de nós está disposto a pagar.
Se desejar, posso te ajudar nessa jornada de reflexão e aceitação das diferenças dentro de sua própria casa. Basta enviar uma mensagem para meu whatsapp e podemos iniciar sua jornada rumo ao processo terapêutico.
Espero que esse pequeno texto ajude não só os pais, mas a todos os familiares de pessoas LGBTQIAPN+, a compreender que a sexualidade de seus filhos não deve ser interpretada como uma doença, uma afronta aos valores familiares, um erro na educação deles ou um desvio de conduta ou qualquer coisa do tipo.
A sexualidade é uma forte dimensão das nossas vidas e não pode ser controlada por interesses externos, por mais que queiramos.
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