Divertida Mente e as Emoções Humanas
- Aniervson Santos
- 8 de jul. de 2024
- 4 min de leitura

Neste texto, gostaria de fazer uma breve discussão a respeito da importância de nossas emoções, independente de quais sejam elas. Para fazer essa discussão, farei um comparativo com o enredo do filme Divertida Mente, que ganhou uma segunda edição recentemente e que está fazendo maior sucesso nos cinemas.
Vocês devem concordar comigo que, de modo geral, a gente costuma supervalorizar alguns sentimentos e inferiorizar outros, não é mesmo? Pois bem, este é um erro que a grande maioria de nós cometemos.
Como no filme, costumamos achar que a alegria é o sentimento mais importante de todos e por isso precisaria ser o mais valorizado. Devido a essa compreensão, costumamos evitar outros sentimentos como se eles fossem inferiores e, portanto, negativos.
Essa atitude de desconsiderar algumas emoções como parte do nosso conjunto psíquico pode acarretar diversos problemas emocionais e sociais, incluindo a ansiedade e a depressão, tão conhecidas atualmente.
No filme, as emoções são representadas por personagens de mesmo nome, Raiva, Tristeza, Nojinho/Desgosto, Medo e Alegria. É através desses personagens que a história se desenvolve a partir da mente da menina chamada Riley. Essas personagens, ou melhor, essas emoções, processam as informações que chegam na psique da menina e as guardam nas memórias.
Essas emoções permanecem o tempo todo em vigília, observando e tentando controlar tudo que acontece na vida da menina. O que vai acontecendo na vida da menina, vai sendo armazenado na memória, no filme, nas esferas, que são classificadas por uma cor que representa as emoções sentidas pela protagonista. Dessa forma, o filme nos aponta que as memórias são gravadas através das emoções.
E se nossas memórias são registros de nossas emoções, não seria melhor então apenas ter registros de emoções alegres?
Bem, se você já assistiu ao menos ao primeiro filme Divertida Mente, você já sabe a resposta para essa pergunta, mas caso você não tenha assistido, irei te responder: não, não podemos basear nossa memória apenas com registros de uma única emoção, mesmo sendo essa emoção muito positiva.
Mas então, qual o motivo dessa atitude não ser benéfica?
Primeiro, precisamos destacar que toda emoção tem o seu valor, mesmo que nós escolhamos a Alegria como a principal ou mais importante emoção, mas o Medo, a Raiva, a Tristeza e até mesmo aquele Nojinho são emoções importantes na vida de qualquer pessoa. No filme essa questão fica evidente. Inclusive, no primeiro filme vemos como a Alegria enxerga todos os acontecimentos na vida da garota com positivismo exagerado, ignorando a realidade dos fatos e, principalmente, excluindo a Tristeza de tais momentos.
Há uma cobrança social sobre o indivíduo em que se exige que ele precisa estar ou, ao menos, parecer estar feliz, a todo o tempo e a qualquer custo. Essa cobrança social escanteia outras emoções, como a tristeza, o que impede de alcançarmos um verdadeiro estado de bem estar. A tristeza, assim como a alegria e outras emoções, é importante para que possamos compreender melhor a realidade dos fatos. É o conjunto de emoções, o equilíbrio entre elas que nos oportuniza uma compreensão mais profunda da realidade que estamos inseridos.
Vamos falar o porquê das outras emoções serem tão importantes para nosso equilíbrio emocional, para além da Alegria?
Bem, o Medo nos ajuda a pensarmos nas consequências de nossos atos, evitando que nos coloquemos em situações de risco. Por sua vez, o Nojo nos impede de nos expor a situações danosas para nossa saúde, o que poderia resultar em infecções que causam doenças ou até a própria morte. Já a Raiva é uma emoção que pode nos ajudar a evitar que injustiças aconteçam, e caso aconteçam, nos ajuda a corrigi-las.
Para a psicanálise, grande parte da personalidade de um ser humano é construída ainda nos seus primeiros anos de vida. No filme identificamos essa questão quando ele aborda as chamadas memórias bases, que são memórias que estão ligadas e influenciam diretamente na personalidade da menina Riley. Essas memórias bases criam uma espécie de ilha da personalidade, representando assim no mundo real o processamento de lembranças que são responsáveis por converter memórias curtas em memórias de longo prazo.
Como já nos disse Freud uma vez "Não somos o que pensamos ser. Somos mais, somos também, o que lembramos e aquilo que nos esquecemos, somos palavras que trocamos, os enganos que cometemos, os impulsos a que cedemos, 'sem querer'".
Precisamos compreender que se sentir triste, com medo, com raiva ou até sentir nojo é completamente normal, natural e até saudável. Não devemos fugir ou negar essas emoções, pois elas, em conjunto, produzem nosso equilíbrio emocional. O que não seria normal e nem saudável é não sentir ou sentir de forma desproporcional e constante essas emoções.
Então, se você deseja encontrar um equilíbrio emocional não desconsidere as demais emoções que não são a Alegria. Acolha e reflita sempre que você sentir medo, raiva, angústia, nojo, enfim, não ignore tais sentimentos, pois eles fazem parte de sua experiência de vida. À medida que você reflete sobre eles e compreende o motivo deles surgirem naquele momento, sua ação negativa não terá a mesma força que tem quando você finge que elas não existem ou que você não as sente.
Então é isso pessoal. Espero que com essa breve discussão, você possa refletir sobre a importância de não fugir de suas emoções, independente se elas não são tão alegres quanto você desejaria que elas fossem. Creio que vocês já sabem, mas não custa reforçar, a terapia psicanalítica pode ser uma importante aliada para que você aprenda a acolher e refletir sobre todas as suas emoções, mesmo aquelas que você nega que possua.
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