Divertida Mente e as Emoções dos Adolescentes
- Aniervson Santos
- 15 de jul. de 2024
- 5 min de leitura

Olá, pessoal, tudo bem com vocês? No texto passado abordei alguns pontos das emoções humanas apresentando o enredo do primeiro filme Divertida Mente. Caso você ainda não tenha lido sugiro que ao terminar de ler esse texto, você pesquise aqui no meu blog e leia, ok?
No texto de hoje, irei abordar de forma mais específica o segundo filme Divertida Mente que neste momento ainda está em cartaz nos cinemas, onde gostaria de apresentar alguns pontos do universo mental dos adolescentes. Se você é pai, mãe ou cuida de alguma forma de algum adolescente, certamente esse texto de hoje poderá te ajudar a compreender um pouco do comportamento desses sujeitos. Então já te convido a ler o texto na íntegra, pois tem muita coisa importante para ser discutida.
Se você assistiu ao primeiro filme deve lembrar das 5 emoções que existem na mente da protagonista, que são: alegria, raiva, nojinho, tristeza e medo. Esse filme se baseia na fase infantil em que a protagonista passa a experimentar essas emoções, a partir de sua vida cotidiana. Neste primeiro filme, vemos que a emoção principal, aquela que atua como se fosse a organizadora da mente da menina, é a alegria.
De forma lúdica, o filme nos faz crer que a alegria comanda tudo e que os outros sentimentos, raiva, medo, tristeza e nojinho são coadjuvantes e só atuam sob sua autorização.
Será que eu posso adiantar uma informação importante mesmo no começo do texto? Posso sim, né?
Bem, essa ideia de achar que alegria seria a emoção mais importante não é a melhor forma de entender as nossas emoções. Não há uma mais ou menos importante. Não há uma que comanda e outra que obedece. Todas, mesmo aquelas que aparentemente são negativas, têm papel importante na vida de qualquer pessoa. E vemos nitidamente isso, ao assistirmos aos dois filmes Divertida Mente.
Nesta segunda versão do filme Divertida Mente, a história se passa no período da adolescência da protagonista Riley. E é sobre esse período que desejo focar a maior parte desse texto. Muitas pessoas, inclusive diversos profissionais, costumam chamar esse período da vida humana de "aborrecência", devido às constantes oscilações de humor desses sujeitos, o que causa um certo aborrecimento por parte de seus cuidadores. De modo geral, esse aborrecimento dos adultos devido às mudanças estruturais em seus adolescentes acontece quase que na mesma intensidade em que tais mudanças acontecem na vida desses adolescentes sem que eles se deem conta.
Muitos teóricos caracterizam essa fase da adolescência como uma fase de crise. Eu poderia ampliar esse termo para o plural e chamá-lo de crises, se quisermos destacar as diversas crises que acometem o sujeito adolescente. Crise existencial, crise emocional, crise física, crise psicológica, crise social e etc. O adolescente entra em crise por um fator em especial: ele ao mesmo tempo que deixou de ser criança, ainda não se tornou adulto. Ele está neste limiar, quase como um estagiário que não possui todas as prerrogativas necessárias para exercer o cargo, mas, por outro lado, assume diversas responsabilidades desse mesmo cargo de um dia para o outro.
Note que o adolescente é aquele que perdeu não só o corpo infantil, mas também os pais da infância e essa, talvez, seja uma das mais importantes crises dessa fase da vida. Mas calma aí que eu vou te explicar melhor. Bem, quando crianças, costumamos achar que nossos pais, ou aqueles adultos que nos criaram, seja os avós, tios ou outra pessoa, sejam como super heróis. Nossos pais, para nosso eu infantil, é alguém que nunca erra, eles sempre nos protegem, são praticamente sujeitos onipresentes.
À medida que vamos envelhecendo e nos tornando adolescentes começamos a perceber a falta e as falhas dos nossos pais. Muitas vezes, a proteção que tínhamos, dá lugar a uma dose de correção e até de punição. Já não estão tão presentes assim o tempo todo. Ao mesmo tempo, o corpo já não é mais o mesmo. A adaptação com esse novo corpo, muitas vezes, leva um bom tempo e sofre muitas resistências.
Já não possuo mais os mesmos pais que eu possuía quando criança e também não possuo mais o meu corpo infantil, afinal, que tipo de pessoa eu sou?
Essa crise, natural de todo o adolescente, é atravessada com outras problemáticas, afinal esses sujeitos estão imersos numa sociedade e numa cultura que impõe algumas regras. Vivemos num mundo do consumo, do imediatismo, do perfeccionismo, da condenação do erro e do discurso de ódio. Tudo isso, influencia o sujeito que, naturalmente, já está em crise e criando sua personalidade.
No filme, outras emoções surgem nesse período da adolescência, justamente onde a personalidade está sendo construída. As novas emoções que surgem no filme são Ansiedade, inveja, tédio e vergonha. Qualquer um de vocês que assistem a esse vídeo agora, certamente já sentiu uma ou mais dessas emoções, não é mesmo? Para a protagonista do filme, essas emoções são novas e incompreensíveis, afinal, na infância, suas preocupações e experiências eram outras.
No segundo filme, assim como no primeiro, uma das emoções se torna a emoção central, aquela que possui mais força e domínio sobre as outras. No primeiro filme, a principal emoção era a alegria, no segundo filme, a ansiedade.
Mas porque será que logo a ansiedade assume esse papel protagonista das emoções na adolescência?
Bem, se considerarmos todas as crises da adolescência que mencionei anteriormente, concordam comigo que esses sujeitos podem se tornar mais ansiosos devido às incertezas da vida? Não possuo mais o meu corpo de antes, e agora? Meus pais não são mais os mesmos, e agora? São tantas dúvidas nessa fase que é natural que a ansiedade tome conta de suas emoções.
Mas se você é pai, mãe ou responsável por algum adolescente, deve tá se perguntando agora, o que fazer com seu filho adolescente, não é mesmo? Bem, a resposta não está pronta e nem seria única. O mais importante é se abrir para o diálogo sem julgamentos com eles. É importante também que você compreenda que a crise na adolescência não significa que eles deixaram de te amar ou de respeitar sua autoridade. Inclusive, é importante dizer que o adolescente não nega a autoridade adulta, ele só não suporta que ela seja imposta de forma autoritária e sem diálogo. Aqui, quero chamar atenção para a diferença entre autoridade e autoritária, ok?
Não há uma receita de como ter sucesso na educação dos adolescentes, mas uma coisa que não funciona é tratá-los como crianças, considerando que já não o são mais, nem tratá-los como adultos, pois ainda não chegaram a ser. Entenda que eles estão numa linha tênue, que vocês também já estiveram nela e que em cada época essa linha exige um tipo de equilíbrio diferente para se estar nela, já que a sociedade muda constantemente. A sociedade de sua época de adolescência não é a mesma da sociedade do seu adolescente. Deu pra entender?
Então é isso, gente. Espero que com esse texto você possa refletir a respeito da crise natural que todo adolescente passa ao entrar nessa fase da vida. Não encare essa crise como uma tentativa deliberada de afrontar sua autoridade enquanto pai ou educador. Procure compreender as dificuldades de se estar num corpo desconhecido e de se ver debaixo de um teto com seus pais quase que irreconhecíveis. Bem angustiante, não é mesmo?
Um importante psicanalista chamado J. -D. Nasio uma vez disse: "A puberdade é um período propício à revivescência de um antigo trauma eventualmente ocorrido na infância". Isso quer dizer que, para além de todo o contexto de crises naturais da própria adolescência que citei anteriormente, ainda existe, nessa fase da vida, o retorno de um trauma que, por ter ocorrido na infância, muitas vezes é desconhecido da consciência do sujeito. Já tinha parado para pensar como essa fase da vida é difícil?
De toda forma, por mais que este período da adolescência seja uma crise natural que todo ser humano atravessa, ela não precisa ser atravessada com sofrimento. É possível que você incentive seu adolescente a iniciar a terapia, para que mais cedo ele possa ir se reconhecendo numa sociedade em constante mudança e tomar consciência de suas mudanças interiores e exteriores, tá bem?
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