A dinâmica da traição na sociedade contemporânea
- Aniervson Santos
- 18 de jul. de 2024
- 5 min de leitura

Olá, gente. Como vocês estão? Caso você seja novo por aqui no perfil, meu nome é Aniervson Santos, sou psicanalista e mestre em Educação, Culturas e Identidades. Neste texto, gostaria de fazer uma discussão a respeito de um tema que está muito em alta, que é a traição, mas sob a ótica da psicanálise.
Vocês devem ter estar acompanhando o caso da cantora Iza que descobriu que seu esposo, o jogador Yuri Lima, a traiu. O caso de traição da Iza, por ser uma pessoa famosa, ganhou muita projeção na mídia. Muita gente está se solidarizando com ela, devido a mesma está grávida. Muitos homens e mulheres demonstraram ficar em choque pela coragem do seu ex-esposo a trair mesmo ela estando grávida. Outras pessoas, não entendem como alguém, tendo a Iza como esposa, considerada um grande símbolo sexual da atualidade, pode ser infiel a ela.
Antes de adentrarmos no tema da traição é importante tocarmos em outro tema que se conecta a ele, o casamento, ou simplesmente, os relacionamentos amorosos. Quando falamos de traição falamos de uma quebra de contrato, uma quebra de acordo que foi estabelecido entre duas pessoas com interesses em comum.
Na nossa sociedade contemporânea, o casamento é um tipo de contrato social que duas pessoas estabelecem entre si. A monogamia é o tipo de contrato de relacionamento mais difundido atualmente. Neste tipo de acordo, duas pessoas se comprometem a permanecerem e a desejarem apenas uma a outra pelo tempo que durarem suas vidas. Mesmo nós não tendo total controle sobre nossos desejos, ainda assim assumimos esse acordo. A traição, neste aspecto, seria a quebra desse acordo, deste contrato de fidelidade eterna entre essas duas pessoas.
Até mesmo em outros modelos de relacionamentos, como os relacionamentos abertos, trisal, poliamor, entre outros, se espera que haja o cumprimento do contrato, dos acordos que são estabelecidos na relação. A quebra dos acordos pode pôr em xeque qualquer relacionamento, seja ele monogâmico ou não.
Mas então, porque será que as pessoas traem se elas de forma consciente e deliberada escolhem entrar num relacionamento amoroso que possui regras e limites?
Gostaria de apresentar 3 principais motivos, ou categorias, pelos quais as pessoas podem trair seus companheiros ou companheiras. Há diversas outras possibilidades para explicar uma traição, seja numa ótica psicanalítica, social, biológica, etc. Mas gostaria de fazer uso dessas 3 explicações para condensar algumas variações e também para não deixar esse texto tão longo, para vocês não me traírem e me abandonarem antes do final dele (risos).
As 3 categorias que usarei neste texto para explicar o porquê das pessoas traírem seus parceiros se baseia na explicação do psicanalista Lucas Nápoli a respeito desse tema. Busquei fazer um resumo e complementar com alguns exemplos práticos para deixar o tema ainda mais compreensível. Então vamos lá?
A primeira das 3 categorias, seria o que pode causar mais sofrimento para a pessoa que trai. Isso mesmo, por mais que não pareça para quem está de fora, na traição pode haver sofrimento também para quem traiu. Chamamos esse primeiro tipo de traição de Traição Ocasional. E como seria isso?
Bem, nesta categoria de traição, a pessoa não consegue se segurar em não trair, diante de situações propícias. Por mais que ela não tenha uma intenção deliberada de trair seu parceiro, as circunstâncias facilitam para que ela se veja nesta situação. Muitas vezes o uso de substâncias como o álcool, por exemplo, pode atenuar esse tipo de traição. Diante de um determinado contexto a pessoa se vê impossibilitada de sair de um circunstância que a levará a uma traição.
Note que essa pessoa não tem pensamentos de traição. Em seu relacionamento essa pessoa nunca imaginou trair seu companheiro ou companheira, mas diante do contexto em que está inserida é como se não houvesse forças moral suficiente para sair daquela situação e ela se rende ao desejo que surge naquele momento e se deixa levar por ele.
Ah, antes que você ache que estou querendo diminuir a responsabilidade dessa pessoa que traiu nessas condições, minha intenção aqui não é dizer se quem traiu tem ou não culpa, mas te ajudar a refletir sobre os possíveis motivos que levam uma pessoa a trair ou não. Inclusive você pode estar em uma dessas situações, seja na condição da pessoa que trai ou na que foi traída.
A segunda categoria que gostaria de apresentar aqui é o que chamaremos de Traição por motivos pessoais. Como o termo já sugere, o companheiro não tem nada a ver com os motivos que levou seu cônjuge a traí-lo. Muitas vezes, devido a uma questão psicológica mal resolvida, ela erroneamente acredita que um dos caminhos para a solução ou para amenizar aquela questão seria a traição.
Neste tipo de traição dizemos que a pessoa está passando por alguns tipo de problemas pessoais que a mobiliza a trair seu parceiro ou parceira. De modo geral, o seu relacionamento não está passando por uma crise ou o parceiro não produziu nenhum tipo de decepção em que a única resposta possível fosse a traição.
Mas então, que tipo de problemas pessoais são esses que podem levar uma pessoa a trair?
Bem, a baixa autoestima, sentimento de inferioridade, problemas com a própria masculinidade, a necessidade de ser amado ou desejo, entre outros problemas de ordem pessoal, pode ser um motor que move a pessoa a buscar pela traição como uma saída.
É importante dizer que diferente da primeira categoria de traição em que não há uma intenção deliberada em trair, aqui, a pessoa nutre esse desejo. Como a saída ou a solução para sua questão psicológica seria a traição, a pessoa planeja, ela arquiteta o ato. É como se fosse uma necessidade infantil de satisfazer e suprir aqueles problemas pessoais que citei. Tem pessoas que possuem uma necessidade tão grande de ser ou de se sentir desejado que o fato de se manter num relacionamento interfere nesse desejo.
A terceira categoria de traições que gostaria de abordar neste texto, difere diretamente das outras duas categorias que citei anteriormente. Nas duas outras categorias o parceiro não tem praticamente nada a ver com os motivos da traição por parte de seu cônjuge. Porém, nesta terceira categoria, o parceiro está ligado aos motivos que levam a traição. Mas como assim?
Aqui, dizemos que a pessoa já não está mais satisfeita com o namoro ou o casamento ou então gostaria de terminar a relação, mas por uma fraqueza egóica ela não possui forças para estabelecer esse diálogo e prefere provocar o término por outras vias. Ao se envolver com uma terceira pessoa ela acaba produzindo uma porta de saída para o relacionamento em que ela já não queria mais estar. É principalmente nessa terceira categoria de traição que se produz um término de relacionamento de forma trágica quando o cônjuge descobre que o seu parceiro o está traindo.
É importante destacar que toda essa dinâmica que envolve os motivos da traição não acontece de forma consciente. A pessoa que trai, muitas vezes, nem se dá conta que ela está buscando resolver uma questão de ordem psicológica, ou que está fugindo para não encarar o término da relação de frente. Por ser uma dinâmica de ordem inconsciente, muitas vezes, os sujeitos envolvidos não compreendem os motivos e nem como chegaram naquela situação.
É importante dizer também que, com esta discussão, não estou querendo diminuir ou anular a responsabilidade afetiva da pessoa que trai, como se, por ser uma questão de ordem inconsciente, a outra pessoa da relação deve aceitar de bom grado. Minha intenção com essa discussão é suscitar a reflexão sobre o tema.
De toda forma, vale salientar, que através da terapia é possível fortalecer nosso ego, a fim de que possamos nos conhecer a ponto de identificarmos nossas fragilidades e necessidades infantis que ainda precisam ser atendidas, para que não permitamos que elas interfiram, de forma negativa, em nossos relacionamentos amorosos.
Se vocês não me traíram e chegaram até o final deste texto, aposto que vão seguir meu perfil no instagram, demonstrando que são fiéis, não é mesmo?!
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